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Tropes no cinema: Contrato firmado entre você e o filme

Atualizado: 31 de jan. de 2022

Você pode até desconhecer o termo “Trope”, mas com certeza já o viu milhares de vezes no cinema.


Toda vez que o protagonista está no meio de um tiroteio e nenhuma bala o acerta, quando dois amigos entram em um bar e se dirigem ao garçom dizendo “duas cervejas” e não são questionados sobre marcas, tipos e preços, ou então quando ocorre uma explosão e o herói caminha tranquilamente de costas sem olhar para trás, lá está o Trope.


Segundo Michael Rizzo, autor do livro The Art Direction Handbook for Film, este conceito define toda e qualquer imagem que contém várias camadas de contexto que, juntas, criam uma nova metáfora visual. Em outras palavras, Tropes são mecanismos e convenções que roteiristas utilizam por entenderem que já fazem parte das referências narrativas da audiência. São padrões que pelo uso exaustivo são compreendidos como triviais por mais absurdo que possam parecer.


Por este motivo, praticamente todo Trope exige um certo grau de suspensão de descrença por parte de quem a vê. Esta relação refere-se à vontade do espectador em aceitar como verdadeiro as premissas de uma ficção, mesmo que elas sejam impraticáveis, contraditórias ou que simplesmente não tenham respaldo em nossas experiências do dia-a-dia. É a suspensão do julgamento em troca do entretenimento, o “simples” ato de deixar a verossimilhança de lado em prol da história. Afinal de contas, imagina se em todo filme, série ou novela as pessoas realmente se despedissem após falarem pelo telefone? Lá está o Trope em que os personagens simplesmente desligam o celular e pronto, vida que segue sem maiores enrolações ou preocupação com o contrato social.


O uso das Tropes ocorre de variadas formas. Elas podem definir toda a premissa de um filme, estar presente em um diálogo, ajudar em estabelecer as características de um personagem ou simplesmente compor uma única cena. Desta última forma de utilizá-las, segue abaixo uma lista com alguns dos mais recorrentes Tropes do cinema. Elas são:

Sinister 2 (2015)


Em filmes de terror/suspense, sempre leve consigo pilhas reservas. Um recurso comum utilizado para criar tensão é a dos personagens - de maneira “inesperada” - agora terem de lidar com a escuridão em decorrência do mau funcionamento de lanternas, quedas de energia ou simplesmente o vento que apaga a vela.


Terminator 2: Judgment Day (1991)


Em uma sequência de perseguição/fuga, muitas vezes os roteiristas e diretores não querem dar demasiada atenção a coisas supérfluas para não quebrar com o ritmo de toda a ação. Por isso, quem nunca entrou em um carro e lá estavam as chaves guardadas no quebra-sol? Fácil e rápido sem levantar questionamentos.


Matriz Reloaded (2003)


Típica situação encontrada em filmes de kung-fu e que foi rapidamente incorporada no cinema ocidental, o protagonista se encontra rodeado por adversários e tudo indica que uma luta será travada. Contudo, é comum que a cena seja resolvida pelo simples fato dos vilões não se unirem contra o herói. Vão para o enfrentamento um-a-um sem pensar em atacar fazendo valer da quantidade.


Miller's Crossing (1990)


Quantas vezes você não assistiu algo (filme, série, novela e afins) em que o protagonista entra em um cômodo todo escuro e, ao ligar a luz, lá está o vilão ou uma figura misteriosa esperando? Em nosso inconsciente, este tipo de Trope fala muito sobre as características do personagem em si. Sintetiza suas intenções e gera expectativa sem precisar de nenhuma linha de diálogo ou cena complementar.


Cliffhanger (1993)


Situações de pessoas penduradas sobre abismos acontece aos montes em hollywood. Não importa o peso ou a força de quem está segurando, em algum momento a adversidade é superada e ambos aparecem deitados ofegantes no chão. Do momento de aflição até sua resolução, este tipo de Trope sinaliza para a audiência o quanto um personagem está disposto a se sacrificar pelo outro por mais clichê que possa parecer o ato heroico.


House Of Cards (2013)


Se coloque no seguinte cenário: Você está assistindo um filme em que, logo na primeira cena, o protagonista aparece matando outra pessoa. Neste momento, diversas questões passam pela sua cabeça quanto às motivações, interesses e contexto que o levaram a cometer tal ato extremado. Contudo, se esta mesma situação se repete só que com o personagem matando um cachorro, nosso julgamento sobre a cena muda completamente, afinal de contas, coitado do inocente e indefeso animal. Se um roteirista quer deixar logo de cara a psique maligna e inescrupulosa de alguém, basta fazer isso.


A Fistful Of Dollars (1964)


Já comentamos neste artigo que é praticamente impossível acertar o protagonista no meio de um tiroteio. Contudo, vai que acontece. Neste momento, entra em cena outro Trope. Quando você pensa que o herói foi alvejado, ele aos poucos se levanta e revela por debaixo de suas vestimentas algo que parou a bala, seja um colete a prova de balas, uma correntinha da sorte ou até mesmo uma foto dobrada. Geralmente, este importante item foi previamente mostrado no filme por se tratar de algo que possui grande valor sentimental para o personagem.


O número de Tropes passa os milhares. Alguns caem em desuso e outros são criados a cada novo lançamento. Independente de suas origens, eles funcionam como importantes gatilhos ao provocar reações no público que já os tem introjetados na sua forma de consumir produtos audiovisuais. Por isso, quando bem utilizados, funcionam em prol da narrativa e favorecem a recepção da mensagem que se pretende passar. Pensando nisso, se você tem algum projeto em mente e precisa roteirizá-lo, entre em contato com a Fauno Filmes para juntos elaborarmos sua peça em vídeo/filme. De maneira consciente, tudo aquilo colocado no papel tem um motivo ao se transformar em imagem e som.



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